domingo, 1 de maio de 2011

ROBSON PINHEIRO (um olhar sobre o reino das sombras )




Sombra e luz, escuridão e claridade. Essa realidade dupla forma o interior do ser humano, que tenta negar-se a cada dia, enganando-se. A maioria das pessoas quer ser apenas luz. Recusam-se a identificar a sombra que faz parte delas. Religiosos de um modo geral falam de um lado sombrio, di- abólico, umbralino, como se esse lado escuro fosse algo externo, ruim, execrável. Até quando negar a realidade íntima? Até quando adiar o conhecimento do mundo interno? Várias tentativas foram realiza- das para conscientizar o homem terreno de que as chamadas trevas exteriores são apenas o reflexo do que existe dentro dele. Luz e sombra são aspectos internos do ser e não representam necessariamente um lado ruim e outro bom. A sombra não é pior do que a luz. Apenas faz parte de um equilíbrio universal ainda neces- sário para a visão do homem terrestre. São dois pólos de uma verdade interna, mais profunda. A sombra representa um aspecto transitório, porém necessário para o ser reavaliar-se ante os apelos da vida e as lutas que o fizeram ser o que é. Essa transitoriedade em qualquer plano da vida é uma etapa de aprendizado, adaptação, revisão dos valores adquiridos em lutas e desafios na grande jornada interna, pessoal, íntima. Portanto, viver esse lado de forma mais plena, conhecer-se mais pro- fundamente, enfrentar-se sem mascarar-se talvez seja um caminho mais excelente — parafraseando o apóstolo Paulo — do que aquele que as religiões do mundo vêm oferecendo e que se reflete em fugas da realidade. Quando é proposta a realização de uma excursão aos domínios das sombras, espera-se que haja coragem para admitir que esse reino obscuro tem sua raiz dentro do próprio ser humano. Ele não existe à parte ou em separado. É preciso reconhecer que a natureza do plano astral, da paisagem extrafísica é apenas a exteriorização do mundo íntimo de cada um. Dessa forma, não há como descortinar a realida- de do astral inferior sem enfrentar-se, sem encontrar a si mesmo, em seu lado sombra, escuro e muitas vezes renegado.Esse mundo de trevas e escuridão é algo muito enraizado no ser humano; não é realidade extra- humana, mas intra-humana. Se você evita conhecer-se, rejeitando que é simultaneamente sombra e luz, não há razão para prosseguir nesta jornada de descobrimento interno. Adentrar o umbral ou o astral é se obrigar a penetrar na própria sombra. Conhecer as estruturas internas das falanges do mal é, sobretudo, conhecer a própria capacidade de esparzir escuridão em si e em torno de si. Descer aos domínios das trevas e tomar conhecimento de seus métodos, de suas falan- ges, de sua força talvez seja uma forma de se revelar — trazer à consciência a própria realidade. Admi- tir-se, sem culpas e sem máscaras. O passado humano é fixo e dependente de conceitos religiosos deturpados e castradores, que fo- ram amplamente difundidos e ainda estão arraigados no psiquismo, mesmo naqueles que afirmam re- chaçar atualmente qualquer crença. Isso faz com que o ser humano, principalmente aquele mais apega- do às questões religiosas, negue a verdade de sua sombra. Para muita gente, somos apenas luz. Quem sabe tal atitude seja uma tentativa de multiplicar as máscaras que trazemos incrustadas na face do espí- rito? Devido ao passado de ignorância, alimentada pela religião secular, ortodoxa e detentora do mono- pólio cultural, infundiram-se no ser humano certos símbolos das sombras, que representam conceitosmoralistas de erro, pecado e desequilíbrio. São mecanismos que agem nas matrizes do pensamento, no inconsciente1 . Muitas pessoas, ao adentrar o mundo além da matéria, quer estejam desdobradas em espírito2, quer através dos portais da morte, ficam inquietas e sentem-se prisioneiras de uma realidade tão impla- cável que temem ou julgam haver sido injustiçadas. Dizem-se inteiramente boas, sem nenhuma sombra moral ou ética que as possa comprometer; com freqüência, nesses momentos, declaram-se detentoras de qualidades e virtudes prodigiosas. Mas a vida além do corpo é apenas uma extensão da vida interna da alma. A estrutura e a organização das legiões do mal precisam ser visualizadas, conhecidas e pesqui- sadas sem que nos escondamos por trás de máscaras de religiosidade ultrapassada. Afinal, toda relação no universo se estabejece em bases de sintonia. Convido-o a mergulhar comigo neste mundo além das aparências, muito além de sua bondade e superlativa espiritualidade. Mas, coragem! É possível que no final dessa experiência descubra que o mundo no qual imergimos não está simplesmente além das fronteiras da matéria, do corpo físico; pode- rá estar também dentro de você, avançando sobre conceitos religiosos que mascaram sua vida e suas sombras. Penetre comigo nesse mundo das trevas, das sombras, conhecendo um pouco das legiões do mal. Jamais se esqueça, porém, de que mal ou bem, trevas ou luz, sombra ou claridade fazem parte de você, de mim, do universo. Visitar o umbral ou estagiar nas regiões sombrias não representa necessariamente atraso espiritu- al ou moral; muito pelo contrário. Lá é que se encontram, inclusive, os espíritos realmente iluminados e abnegados, que renunciam às paragens celestes — seuhabitat verdadeiro — para se localizar onde im- pera o clamor daqueles que sofrem. Para a decepção dos que adotam idéias místicas e fantasiosas, "o céu está vazio", como costumamos dizer por aqui. Portanto, a jornada que ora se inicia pode representar muito para seu crescimento. Espero que aquele que tem um compromisso mais intenso com os trabalhos espirituais possa apreciar em grau muito maior aquilo que transcende as palavras deste livro, que está por trás das letras. Para esse leitor, que é uma espécie de iniciado, eis aqui bem mais do que um livro com características semelhantes às de um romance. É preparo para algo que, em breve, virá como alerta e alternativa para os povos da Terra.

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