O que a idade nos traz? Lembro quando era mais nova e adorava chamar atenção. A idade me trouxe a vontade de sair dos holofotes, de trabalhar nos bastidores e antes, que não me calava por nada, ando escolhendo o silêncio em muitas ocasiões. A voz alta querendo ter razão foi sendo substituída por olhos observadores. Na minha vida assumo meu palco, mas foi com a idade que aprendi que deve se ter muito cuidado para não invadir o palco do outro. Querendo espaço, muitas vezes pisamos com desrespeito o terreno que não é nosso. As plateias também não me agradam tanto. Menos tumultos, perdi o medo das solidões. Tive a curiosidade e coragem de me conhecer. E, ao saber de mim, do que me machuca e me cativa, comecei a me colocar no lugar do outro e a tratar com zelo os relacionamentos. Ainda sou eu. Prezo a verdade, a lealdade, ainda tenho minha acidez e vez ou outra, minhas mãos devolvem o tapa depois de ter minha outra face vermelha de tanto apanhar. Ainda sou imatura e cometo falhas levianas. Mas sei que evoluí. Tenho muitos anos ainda para crescer (que Deus me permita) e, outra coisa que aprendi com a idade, foi a me fazer, somente a mim, de referência de comparação. Estou melhor do que era antes, mas tenho um mar imenso de coisas a aprimorar. O importante é que tem sido gratificante ver os dias passarem e no fim da noite deitar com a consciência que dei o meu melhor, e o que não fiz, que durmo com uma vontade imensa de fazer tudo o que posso no dia seguinte para que os objetivos sejam alcançados. Menos autocobrança sem deixar de cumprir o que devo, também. Coisas boas que a idade nos traz. Hoje, minha felicidade carrego em meu semblante e não mais em gargalhadas altas. Em um sorriso discreto consigo dizer ao mundo que sou feliz e estou bem. Muito bem."
(Rachel Carvalho)
(Rachel Carvalho)